São várias as influências da cultura nordestina, que traz um pouco da história dos indígenas, africanos e europeus. Na música popular e na dança, destacam-se ritmos como o xaxado, baião, forró e trevo, mas a região também é casa de artistas que conquistam fãs de Norte a Sul com outros ritmos. As cantoras Pitty e Duda Beat, convidadas do ‘Conversa com Bial’ desta sexta-feira, dia 15, mostram o poder feminino da voz do pop rock feito no Nordeste e comentam sobre a recepção do público, citando também os principais estigmas que envolvem a musicalidade proveniente da região.
Dona de um trabalho autoral de grande repercussão e sem medo de dizer o que pensa, Priscilla Novaes Leone, a Pitty, é uma artista que tem bem nítida a função do rock nacional em sua vida: “O rock foi o primeiro lugar onde eu encontrei uma identidade com as coisas que eu sentia e pensava”. Nascida em Salvador, na Bahia, Pitty admite que encontrou em São Paulo um lugar onde criar raízes, mas não esconde a importância de suas origens: “Eu cheguei aqui e senti minha alma na cidade, no clima e nas pessoas. Houve uma identificação. São Paulo para mim é casamento e a Bahia é mãe”. Sobre o Nordeste, a cantora destaca que, na época em que começou a carreira, a Bahia se revelou como um grande obstáculo a ser vencido: “Quando eu comecei, lá nos anos 1990, era completamente impensável ser algo diferente do axé. Hoje, se chegou num lugar em que é possível fazer um som baiano com uma mistura diferente”. E, por mais que ainda exista a distância da terra natal, a cantora é capaz de enxergar mudanças positivas: “Com o tempo, esse autoexílio traz a capacidade de conseguir olhar para a Bahia com olhos mais profundos e me reconhecer nisso.”
Mesmo com 20 anos de carreira, a baiana deixa claro que ainda há folego para novas produções: “Não me esgoto artisticamente porque sempre acho que tenho coisas importantes para fazer”. Com um talento especial na hora de compor, a cantora ressalta uma pequena parte da responsabilidade desse processo: “Quando escrevemos canções e lidamos com a comunicação, nunca sabemos bem como isso vai chegar. Quando vai para o outro, deixa de ser só seu”. Sobre a fama de rebelde, Pitty declara: “Esse lugar de rebeldia vai sempre existir, faz parte da minha natureza. Eu quero falar com mais gente, desde que eu continue dizendo o que eu quero dizer. Essa é uma concessão que eu não abro mão”. Embora consolidada na indústria musical, Pitty faz questão de evidenciar a fidelidade do seu público: “Meus fãs estão indo junto comigo. Esses anos todos eu fui notando um crescimento, uma mudança positiva.”
A pernambucana Duda Beat, nome recente na música nacional, também traz boas lembranças de Recife, sua terra natal, mesmo vivendo há muitos anos no Rio de Janeiro: “Eu levo tudo da minha cidade. A comida, as músicas, minha família.” Apelidada de “rainha da sofrência pop”, ela diz não se importar. “Esse gênero serve para exteriorizar o que a gente sente. O meu trabalho é totalmente biográfico. Eu já sofri muito por amor”, confessa a artista. Com um estilo carregado de personalidade, Duda ficou conhecida também pela irreverência na hora de se vestir: “Eu amo os anos 80, aquela coisa épica e dramática. Eu acho que os looks seguem essa linha e são para nos divertir, nos sentirmos bem”, avalia.
Com direção artística de Monica Almeida, o ‘Conversa com Bial’ é exibido após o ‘Jornal da Globo’.