A atriz Ruth de Souza morreu aos 98 anos neste domingo, às 11h20, no Rio de Janeiro. Ela estava internada há seis dias no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, na zona sul do Rio, e faleceu em decorrência de complicações de um quadro de pneumonia. Nascida no dia 12 de maio de 1921, no bairro carioca do Engenho de Dentro, Ruth Pinto de Souza foi a primeira atriz negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Em 1945, fez história com a apresentação da montagem “O Imperador Jones”, de Eugene O’Neil, do Teatro Experimental do Negro, grupo fundado por Abdias Nascimento e Agnaldo Camargo. Ainda no teatro, Ruth esteve em 30 produções e sua trajetória abriu caminhos para o artista negro no Brasil.
Ela foi a primeira atriz brasileira a ser indicada ao prêmio de melhor atriz num festival internacional de cinema, com ‘Sinhá Moça’, no Festival de Veneza em 1954, e atuou em cerca de 40 filmes como ‘O Assalto ao Trem Pagador’, ‘Orfeu Negro’ e ‘Filhas do Vento’.
Também foi uma das pioneiras na televisão. Trabalhou em programas de variedades e musicais desde as primeiras das transmissões da TV Tupi, até adaptar para a televisão, com Haroldo Costa, a peça “O Filho Pródigo”, que havia encenado no Teatro Experimental do Negro. A primeira novela foi “A Deusa Vencida” (1965), de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior. Passou pela TV Record e, em 1968, foi contratada pela Globo para atuar na novela “Passo dos Ventos”, de Janete Clair. Tornou-se a primeira atriz negra a protagonizar uma telenovela: ‘A Cabana do Pai Tomás (1969)’. Além dela, esteve ainda em ‘Os Ossos do Barão’, ‘O Rebu’, ‘Duas Vidas’ e ‘O Clone’, num total de 32 novelas e dezenas de outros trabalhos, como os seriados “Memorial de Maria Moura” e “Na Forma da Lei”.
Ruth não tinha filhos, apenas sobrinhos. Em 2019, foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz durante desfile da Série A do carnaval do Rio, com o enredo “Ruth de Souza – Senhora liberdade. Abre as asas sobre nós”. O último trabalho dela na Globo foi na minissérie ‘Se eu fechar os olhos agora’, exibida em abril deste ano. Na obra recriada por Ricardo Linhares a partir do romance original de Edney Silvestre, interpretou Madalena, uma senhora abandonada. A personagem era ‘adotada’ pelos meninos Paulo Roberto (João Gabriel D’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois) antes de ser assassinada.
Filha de um lavrador e de uma lavadeira, carregava desde a infância o sonho de ser atriz. “Eu era apaixonada por cinema. Queria ser atriz, mas naquela época não tinha atores negros, e muita gente ria de mim: ‘Imagina, ela quer ser artista! Não tem artista preto’. Eu ficava meio chateada, mas sabia que ia fazer; como, não sabia”, declarou em entrevista ao site Memória Globo.