O Vale do Café, região que, segundo os livros de História, moveu a economia do país no século XIX, está diferente. Além de apontar para as novas fontes de geração de renda do local, o ‘Globo Repórter’, desta sexta-feira, dia 8, capitaneado por Edney Silvestre, volta ao passado para desfiar o legado construído e deixado pela mão de obra escravizada. Segundo dados apresentados no programa, o Vale do Café é a região do Brasil que recebeu o maior número de escravizados, por conta da demanda nas plantações, e chegou a ter 70% de sua população formada por eles.
“A contribuição dos escravizados para a riqueza e esplendor do Vale do Café ficou – e ainda está, em grande parte – escondida dos livros de História. Tentamos mostrar um tanto disso no ‘Globo Repórter’. Ainda é pouco. O tema pede e merece muitos outros programas”, contou o jornalista, que é natural de Valença, e se surpreendeu com a própria apuração: “Descobri que a praça onde eu, criança, brincava inocentemente com meus pais e meus irmãos, ao lado da catedral de Valença, no século XIX era um mercado onde vendiam seres humanos escravizados”.
Dar visibilidade aos feitos pela população negra e protagonismo a quem lutou por liberdade é uma missão encampada por professores de História negros como Silvana Nunes e Antonio Carlos da Silva. Ela apresenta ao seus alunos quem foi ‘Mariana Crioula’, liderança local, e ele fez do Vale do Café tema de seus estudos da graduação ao pós-doutorado. “Ela era uma heroína, lutou contra aquele sistema. Precisamos entender que mulher é essa, que força essa mulher tem. Mariana, pra mim, é essa pioneira, essa que nos fortaleceu enquanto Mulheres Pretas do Vale do Paraíba. Eu sempre digo que ela está aí. Eu quero mostrar para os meus alunos negros que a gente não é só coisa, que a gente está aqui só pra servir, que a gente também é protagonista de alguma história”, defende ela.
O tema do programa foi sugerido pelo próprio Edney Silvestre, que ainda se dedicou a mostrar para onde aponta o futuro de Valença. A cidade se tornou destino de gente que investe numa forma menos agressiva de plantar café, na produção de cachaça, na criação de búfalas, cujo leite produz queijos e sorvetes artesanais. Um parque ecológico com inspiração em Inhotim também é destacado no programa.
“O Vale do Café e sua história são fascinantes e acreditei que tinha chegado o momento de falar deles. Propus a pauta e lá fomos nós. Foram três meses circulando por lá”, conta o jornalista, que apesar de não morar mais na cidade, nunca deixou de reverenciá-la: “Está presente na minha memória desde sempre, inclusive em alguns de meus romances”, reforça o repórter.
O ‘Globo Repórter’ vai ao ar na próxima sexta-feira, 8 de abril, após o ‘BBB22’.