Mania de Você tinha todos os elementos para ser uma grande acerto da TV Globo neste ano de 2024, mas acabou caindo num ciclo de erros primários e bastante questionáveis. Criada e escrita por João Emanuel Carneiro, a novela externa erros que são corrigíveis, o que poderia facilitar e muito o entendimento do público cativo na faixa das nove horas. Sob o lema do jogo vira o tempo todo, a trama dispõe de protagonistas de caráter duvidoso, mesma fórmula usada em A Favorita, que não emplacou na atual devido a uma falha grotesca na execução de seu desenvolvimento.
Dentre as deficiências claramente visíveis em vídeo, a ausência do fio condutor é o que mais deveria ter sido ajustando, enquanto ainda estava no papel. Extrapolando da edição em cenas consideradas pesadas que poderia espantar os conservadores, outros fatores contribuem para o baixo rendimento como apostas exageradas em nomes desconhecidos, texto muito abaixo do esperado elevando a fragilidade na espinha dorsal e núcleos desnecessários. Exemplo de encheção de linguiça, a família disfuncional capitaneada pelo ex-casal Edmilson (Érico Brás) e Duh (Ivy Souza) beira ao constrangedor com o que apresentam.
Além deles, Ísis (Mariana Ximenes), prometida para ser a grande vilã da história, assim como Mércia (Adriana Esteves), encabeça o núcleo cômico inspirado no filme Parasita (2019). Na mansão de Berta (Eliane Giardini), a loira cede as chantagens da trambiqueira Leidi (Thalita Carauta) e do sedutor Sirley (David Júnior). Inclusive, a milionária consegue, com facilidade, ser passada para trás o tempo todo, sem levantar suspeita que a nora quer lhe aplicar um golpe, mentindo que Tomás (Paulo Mendes) é filho do finado Henrique (Antonio Saboia), quando na verdade, o pai do rapaz é o amante dela, Gustavo (Allan Souza Lima).
Tropeços amadores com os personagens principais
Como se não bastasse as situação bisonhas com a realidade, os personagens principais destoam completamente do que foi vendido por meio das chamadas e da primeira semana de exibição. Batalhadora e fura olho, Viola (Gabz) oscila entre o heroísmo e o marasmo de mocinha com banca de guerreira. A ex-acrobacista acusa seu ex-noivo de tirar tudo dela, porém, mesmo descredibilizada, mantinha uma vida minimante sofisticada com o seu pai adotivo, Marcel (Bukassa Kabengele). Beirando ao surreal, a receita que a mesma preparou caiu nas mãos de Luma (Agatha Moreira) que a acusa de roubo.
Incrédula com o circo, Ana Maria Braga até tirou sarro dessa pataquada do novelista, afirmando que não existe patente para isso. Falando nisso, a filha fake do finado Molina (Rodrigo Lombardi) consegue ser saco de pancadas de todo mundo. Corna mansa, na primeira fase, a herdeira perdoou os chifres que ganhou da melhor amiga, duas vezes. Sendo trouxa e burra ao extremo, Mavi (Chay Suede) passou a perna nela, deixando-a na pobreza, recorrendo aos trabalho de chef de cozinha e motorista por aplicativo, fracassou nas duas profissões.
Sem função, Rudá (Nicolas Prattes) serve a cota dos bonitões e interage livremente com alguns outros personagens. O caiçara não tem história, sustância e não apresenta nada de interessante. Destaque na vilania, Chay Suede imprime perfeitamente o sadismo o que é exigido pelo autor, junto com as boas tiradas e a química exalante com seu príncipe Iberê (Jaffar Bambirra). Diferente da antecessora, Todas as Flores, João Emanuel Carneiro quis inovar demais e prejudicou toda a narrativa com essa ideia falha.
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