Nesta quinta-feira, dia 06/01, estreia a nova temporada do Repórter Record Investigação, sob o comando de Luiz Fara Monteiro.
No primeiro programa, as jornalistas Flávia Prado, Mariana Ferrari e o repórter cinematográfico Leonardo Medeiros mostram por que o Brasil é o quinto no mundo em casamento infantil e como a união precoce condena principalmente a vida de meninas negras e pobres. De cada quatro jovens brasileiras, uma ainda se casa antes de completar 18 anos.
“O casamento infantil perpetua o ciclo de pobreza, da exclusão social e da violência, além de retirar direitos e comprometer o futuro das meninas”, afirma Ana Maria Villa Real, coordenadora da Infância do Ministério Público do Trabalho.
As uniões precoces no Brasil e no mundo passam longe dos dados oficiais. Por lei, qualquer união formal ou informal antes dos 18 anos é considerada casamento infantil. Casamentos entre menores de 16 não podem ser aceitos. E dos 16 aos 18 anos, é preciso ter autorização dos pais ou do juiz.
“Todos os anos, no mundo inteiro, por volta de 12 milhões de meninas com menos de 18 anos se casam”, aponta Maria Laura Canineu, diretora da Human Rigths Watch Brasil.
O programa apresenta a história de nove meninas. Dentre elas, a maioria não completou 18 anos e, por isso, as identidades foram preservadas.
A equipe percorreu duas cidades do Piauí, um dos estados mais pobres do país, para entender o que leva as jovens a se casarem tão cedo. São relatos que representam a realidade de milhares que vivem nas periferias do Brasil e mostram algumas das razões destas uniões, pobreza, lares desestruturados e gravidez precoce.
F., de 16 anos, antes de se casar, sofria abusos sexuais do padrasto. “Ele mexia comigo quando eu tinha uns nove, 10 anos”, relata. A mãe nunca deu atenção para as queixas da filha. F. então decidiu ir embora de casa e procurar o pai, com quem morou durante dois anos, até conhecer o seu atual marido – o primeiro e único namorado que teve. Os dois começaram a se encontrar escondido da família dela. “Eu tinha 13 anos e ele, 21. Quando meu pai descobriu, se a gente não se casasse, ele ia para Justiça. Fomos obrigados a casar”, conta.
Um dos principais motivos que levam à união precoce é a gravidez. “A minha mãe deixou meu namorado ficar em casa por uns tempos. Aí depois de um tempo engravidei. Eu tinha 14 anos”, revela V., hoje com 15.
A maioria das meninas, ao se casar, deixa de frequentar a escola muito cedo. O que anula oportunidades de quem um dia sonhou em estudar e ter uma vida melhor. R. só completou o nono ano do ensino fundamental. “Foi por causa da minha gravidez”.
A pobreza também é um dos fatores que empurram jovens para uma união precoce. “A gente não comia carne em casa. Só ovo, na maioria dos dias. O que dava para o almoço, às vezes não dava para o jantar”, diz F. Agora casada, além de lidar com a escassez de alimento, F. se preocupa em dar conta do trabalho doméstico. “Eu lavo, passo, cuido do bebê, faço tudo”, explica.
O futuro das meninas que falaram ao Repórter Record Investigação ainda é incerto. Como é o de milhares de jovens que vivem em condições semelhantes nas periferias do país.
“É preciso muita conscientização e esclarecimento para que a sociedade olhe para as crianças pobres e periféricas como sujeitos de direitos fundamentais”, enfatiza Ana Maria Villa Real, coordenadora da Infância do Ministério Público do Trabalho.
O Repórter Record Investigação vai ao ar às 22h30. A apresentação é de Luiz Fara Monteiro.